55 - AQUÁRIO PARA KINGUIOS, CONSIDERAÇÕES.

31/12/2015 18:35

Sabemos que os kinguios são extremamente populares, mas o aquarista iniciante dificilmente sabe dos cuidados necessários para garantir um ambiente sadio a este belo peixe.

Visando informar melhor seus simpatizantes, aqui estão algumas dicas do que um aquário de kinguios deve conter:

1 – Tamanho do aquário:

Kinguios são peixes originalmente de água fria e, portanto, seu metabolismo requer mais oxigênio do que peixes tropicais. Há uma regra para povoar o aquário, que deve ser de 60 a 80l por exemplar adulto. Sabemos que eles crescem muito com o tempo, principalmente exemplares de determinadas raças como Cometa, Oranda, Cálico, Telescópio e kinguios comuns, além de algumas outras. Com condições favoráveis, indivíduos dessas raças atingem padrão de matriz com menos de 2 anos de idade.

Por isso, um aquário para 2 kinguios, considerando uma excelente filtragem, deve ter no mínimo 150l.
Observe também que o aquário deverá passar por uma ciclagem para a formação da colônia de bactérias nitrificantes. Esse período dura em média de 30 a 40 dias, no qual nenhum peixe deve ser adicionado ao aquário, pois morreria envenenado por nitrito e amônia.

2 – Filtragem:

A filtragem é o ítem mais importante a ser considerado. É preciso que a vazão de filtragem compreenda 10 vezes o volume do aquário. Isso se faz necessário para manter a boa qualidade da água, retirando com eficiência fezes, restos de alimentos e outros detritos.

A filtragem biológica, compreendida pelas cerâmicas, deve ser generosa para que haja bactérias suficientes para processar a amônia produzida, bem como carvão ou resina equivalente (filtragem química) para retirar outras substâncias tóxicas descarregadas na água.

O perlon, responsável pela remoção dos detritos maiores, deve ser trocado sempre que saturado.
A manutenção do filtro deve ser rigorosa para seu bom funcionamento e eficiência. O período entre as manutenções varia de aquário para aquário.

Os melhores filtros são os externos por sua praticidade e custo acessível, sendo melhores os do tipo canister pela maior eficiência e espaço para acomodação de mídias.

Um outro ponto a ser observado é a correnteza. Águas muito agitadas nas saídas desses filtros devem ser evitadas, pois não são ideais aos gordinhos, que possuem natação desajeitada por natureza.

A fim de incrementar a oxigenação, o nível da água pode ser fixado a uma distância suficiente da saída do filtro para prover a formação de uma discreta cascatinha.

3 – Substrato:

Kinguios e lay outs muito elaborados são incompatíveis. Eles fazem sua própria decoração revolvendo o fundo. O melhor substrato é o cascalho número 1 ou areia grossa de rio.

Evite cascalhos de granulometria muito grande, pois os vãos deixados entre eles convertem-se em depósitos de detritos que comprometem a qualidade da água. Evite também cascalho cujo tamanho permita ser engolido pelos peixes, isso pode provocar acidentes, já que o pedregulho pode ficar entalado na boca, ferindo-os e, não raro, levando-os à morte.

Evite, também, os cascalhos coloridos artificialmente; a tinta contida neles pode ser liberada na água.
Uma camada de 5 cm de substrato é suficiente.

4 – Plantas! Será possível?

Plantas e kinguios raramente podem conviver. Apenas algumas espécies como as Anubias, Sagittarias e outras de folhas largas e duras podem resistir aos seus ataques. Kinguios são onívoros, ou seja, comem de tudo um pouco e, como tal, plantas fazem parte do cardápio.

Algumas pessoas conseguem sucesso nessa parceria, mas isso não é frequente.
A menos que queira ficar repondo plantas constantemente, é aconselhável que opte pelas artificiais, com grande variedade no mercado. Evite as que possuem pontas muito pronunciadas, os kinguios podem prender suas caudas e rasgá-las.

5 – Decoração:

Lay outs com rochas ficam bem em aquários de kinguios. Mas fique atento às extremidades, evite rochas muito pontiagudas para que não machuquem ou desfiem suas longas caudas.

Cuidado com as grutas e outras estruturas, certifique-se de que estejam bem firmes, as rochas de alicerce bem fixadas para que, esbarrando o peixe, não causem um acidente.

Cortinas de bolhas podem conferir um efeito bonito ao aquário e acrescentar pequeno reforço de oxigenação no verão, quando a temperatura se eleva.

6 – Outros habitantes:

Este é um item delicado. Algumas pessoas gostariam de colocar outras espécies junto com os kinguios. Isso não é aconselhável pelas seguintes razões:

Parâmetros de água: Kinguios são peixes de pH alcalino (ideal de 7,2 a 7,5)
Temperatura: embora nossos kinguios sejam aclimatados a temperaturas mais elevadas, seu metabolismo é prejudicado em temperaturas maiores que 24 °C, pois quanto mais quente, menor a taxa de oxigênio dissolvido e mais acelerado o metabolismo.
Sua natação desajeitada e lenta, seu temperamento dócil e suas longas caudas os tornam vulneráveis aos ataques de outras espécies.
Portanto, a melhor combinação é sempre kinguio com kinguio, lembrando que são muito sociáveis, por esse motivo é aconselhável que tenha pelo menos dois em aquário compatível.

7 -Testes:

Para manter a qualidade da água em dia, é necessário fazer regularmente alguns testes: amônia, nitrito, nitrato, pH, gH, entre outros, sendo que os 4 primeiros são muito importantes.

Amônia e nitrito determinarão a frequência das TPAs e, consequentemente, a eficiência do sistema de filtragem, já que a presença dessas substâncias indica filtragem deficiente ou superalimentação.

A água de reposição deve ser tratada com condicionador para remover o cloro e outros metais, ter seu pH avaliado sempre e, se necessário, ajustado, bem como a temperatura, a fim de evitar choques que comprometem o sistema imunológico do peixe.

Lembre-se sempre que a saúde de nossos gordinhos depende muito da higiene do aquário, isso inclui sifonagens periódicas do substrato para remoção de fezes e restos de comida, limpeza dos filtros com a troca de suas mídias ao tempo necessário, bem como de alimentação adequada e variada.

8- Alimentação:

Esse também é um ponto delicado e de grande importância para o bem estar dos gordinhos.
Kinguios possuem um aparelho digestório diferente e, por não possuírem estômago, o alimento vai direto para o intestino que é bem comprido. Mas essa particularidade impede que o alimento seja aproveitado ao máximo, por isso, kinguios possuem um apetite voraz, querendo comida a toda hora. É por essa razão, também, que a alimentação dos kinguios deve ser feita em pequenas porções. Tal conjunto de fatores culmina com a fama de peixe “sujão”.

Um outro fator, devido à falta do estômago e, portanto, sem ácido clorídrico, é que gorduras associadas à proteína não são digeridos, por isso a necessidade de fornecer alimentos de origem vegetal como spirulina, algas, ervilhas e chicória, bem como rações específicas para kinguios, pois o acúmulo de gordura e proteína no organismo dos peixes sobrecarrega o fígado, fazendo-os adoecer.

Alimentos vivos como artêmias e tubifex são necessários para variar a dieta, mas devem ser dados com moderação para evitar excessos.

Algumas raças de kinguio em particular são muito propensas a problemas de formação de gases, Orandas, por exemplo. O excesso de gás formado na bexiga natatória, um órgão cheio de ar e que o peixe controla para se mover na coluna d’água, faz com que esta sofra uma paralisia. Dessa forma, o peixe não consegue controlá-la e o que vemos é um nado desequilibrado, com o peixe virando de barriga para cima e, frequentemente, indo para a superfície.

Quando tal situação se apresenta, o melhor é comprarmos Sal de Epson (Salamargo), separar o peixe em aquário hospital, com coluna de água baixa (cerca de 3 vezes a altura do peixe), diluir o sal na proporção de 1 colher de sopa para cada 20l e inserir no aquário hospital.

Deixemos o peixe nesse banho por volta de 4 a 5 dias, com aeração fornecida por compressor e pouca oferta de comida. (Tratamento transmitido por Marcos Mataratzis). A inclusão de ervilhas cozidas (e sem pele) no cardápio pode ajudar a eliminar o excesso de gases que venham a se formar.

Quanto a rações específicas para kinguios, há várias marcas no mercado, algumas com bastante tradição. Dê preferências a rações que afundam, pois as que ficam boiando favorecem que o peixe engula ar e provoque a formação de gases. A boa qualidade e a especificidade garantem um bom equilíbrio alimentar aos nossos kinguios.

9 – Reconhecendo os sexos:

É difícil saber o sexo dos kinguios fora de sua época de reprodução, que normalmente se inicia com a primavera e vai até o fim do verão. No entanto, com boa observação, podemos ver certos detalhes até mesmo fora desse período:

No macho:

  • As nadadeiras peitorais são mais grossas, e se as tocarmos notaremos nelas certa aspereza;
  • O ânus se apresenta côncavo;

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Na época da reprodução, por ação hormonal, veremos micronódulos brancos no opérculo (a parte que recobre as brânquias). Esses parecem microespinhas (Órgãos de Pérola).

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Na fêmea

  • Nadadeiras peitorais finas e delicadas;
  • O ânus se apresenta convexo, formando um pequeno “biquinho” para fora;
  • A fêmea geralmente é maior e na época da reprodução pode se apresentar com o ventre aumentado, devido ao depósito de ovos.

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Literatura consultada: Artigo de Daniel Eiti em Rev. Aquamagazine, #8, 2009.

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